
Em "nova realidade", arT celebra volta ao Major: "Não é um campeonato qualquer"
Um dos grandes nomes do cenário brasileiro nos últimos anos, Andrei "arT" Piovezan assistiu de longe o último Major. De fora de Xangai depois de sete participações consecutivas em mundiais, o capitão do Fluxo disse ter sentido muito a ausência no mundial e está feliz que conseguiu voltar.
"É super importante (voltar). O Major tem um impacto muito grande, uma mágica, não é como um campeonato qualquer", disse arT em entrevista à Dust2 Brasil durante o media day do BLAST.tv Austin Major.
"Sofremos bastante por ficar de fora do último, é uma situação complicada, você se sente mal. Mas nós sabíamos da importância que era estar aqui, presencialmente, no Major", completou.
Para arT, voltar ao Major não é o objetivo final. Ele quer mais.
"Não diria que é um alívio porque a pressão e o trabalho continuam. Não queremos só chegar no Stage 1, queremos ir para o próximo Stage, fazer bons jogos, e nada mudou. Trabalhamos bastante para estar aqui e vamos precisar trabalhar para estar no Stage 2, no próximo Major, é um processo cíclico", explicou.
A vaga no mundial veio um pouco antes de arT completar um ano de Fluxo. Depois de seis temporadas representando a FURIA, o jogador vestiu a nova camisa no ano passado e passou por muitos acontecimentos desde então.
"Teve muita coisa acontecendo nesse tempo. Um ano passa rápido, mas, ao mesmo tempo, muita coisa acontece, muitas trocas de lineups, muitas ideologias de jogo, mudanças e trocas de ideia", disse.
"É difícil condensar um ano em poucas palavras, em uma frase, mas acho que, pensar onde chegamos depois desse um ano (demos) um passo para frente. Estamos com um time mais sólido, de gameplay consolidada. No geral, onde chegamos é onde queremos estar, então estamos focados nisso", continuou o jogador.

A realidade de morar e competir no Brasil, se degladiando em campeonatos onlines e com poucas chances de sair do país, é nova para arT. O jogador explicou a diferença desse período no Fluxo com os últimos anos de FURIA.
"São mindsets completamente diferentes. Você vai para um campeonato com uma expectativa de título ou de playoff, mas, quando você dá um passo para trás, deixa de pensar nisso e começa a pensar em se classificar", contou.
"É uma realidade diferente, com felicidades e estresses diferentes. Mas o processo é o mesmo, você trabalha tanto quanto antes. Não é porque estou no Brasil que é mais fácil, continua sendo difícil. A dificuldade muda um pouco dependendo do patamar que estamos. Quando nos classificamos para campeonatos pegamos times como Legacy, MIBR e Imperial, antes eram outros times que também nos davam muito trabalho e eram difíceis. A perspectiva muda, mas o trabalho, o estresse e as preocupações, apesar dos caminhos distintos, ainda existem", completou.
Treino é treino, jogo é jogo
O Fluxo chega ao Major em um bom momento em solo nacional. O time vem de seis vitórias consecutivas e recentemente foi campeão da ESL Challenger League. arT diz que o momento é importante, mas destaca a falta de ritmo de jogo - a última partida oficial do Fluxo foi dia 11 de maio.
"Tivemos agora um período de bootcamp na Europa, sem nenhuma competição, treinando muito, mas é uma faca de dois gumes. Por um lado, viemos de uma sequência muito grande, mas também faz tempo que não jogamos", disse.
"No bootcamp você treina muita coisa, mas treino não é live (jogo oficial). A prática no live é bem mais importante, o campeonato é um treino melhor do que o próprio treino. Mas o volume de coisas que fizemos foi positivo, dá para tirar bastante coisa que vamos usar no Major, e aí é começar e ver como vai ser, se vamos seguir nossa win streak, se vai ter uma quebra e teremos que ver o que aconteceu. É jogando que descobriremos", completou.

O Fluxo se preparou para o Major na Alemanha e, mesmo como a maioria dos times de alto escalão nos Estados Unidos para a IEM Dallas, o time conseguiu acesso a bons treinos. Como já é sabido, até mesmo os times de menor expressão são boas fontes de prática.
"A Europa é sempre muito boa para treinar, tem muitos times de um nível competitivo no tier 1 e no tier 2. Pegamos um pouco dos times que caíram cedo na (IEM) Dallas agora no final, e alguns que ainda não tinham viajado no começo. Tivemos treinos no tier 1 e no tier 2 bem produtivos. No geral, quando você 'voluma' o tier 2 tem bastante coisa que você pode aprender, jogar, treinar e pegar jogadas e dinâmicas. É muito produtivo, mesmo não tendo os times que ficaram para cá para jogar o Major", disse.
"Foram duas semanas e meia, então tivemos tempo para fazer tudo. Aplicamos todos os mapas no começo e depois focamos mais nos mapas que esperamos para o primeiro e segundo confrontos. Dá para ter uma noção do que eles preferem jogar. Na md1 temos dois vetos, então sabemos, mais ou menos, quais serão os mapas que vamos volumar nessa trajetória do primeiro stage. Nos últimos 4 ou 5 dias focamos mais nos mapas que queremos pickar e que vão sobrar na md1", completou.
Desafios
A volta de arT ao Major é repleta de desafios. Um deles é lidar com a falta de experiência de parte da escalação, já que três dos cinco jogadores nunca disputaram um mundial antes. Isso, até agora, não transpareceu para arT.
"Eles tem uma cabeça bem madura para lidar com a pressão. Internamente você nunca sabe o que está se passando, mas, o que eles demonstravam nos treinos era de não estar tão preocupados com a pressão e ansiedade. Agora que isso vai bater e vamos começar a lidar", afirmou.
"Tentaremos deixar as coisas mais limpas o possível para o jogo, com mindset preparado, táticas prontas e o que queremos fazer para tentar tirar um pouco desse estresse e ansiedade. No processo não sentimos tanto, mas agora vai bater e tentaremos fazer com que isso seja minimizado ao máximo possível, chegando lá e fazendo um jogo sólido", continuou o jogador.

Outro percalço é a ausência de Marcos "Tacitus" Castilho, treinador do time, que não obteve visto de entrada nos Estados Unidos. O responsável por ficar atrás da equipe será Pedro "BobZ" Rocha, o assistente técnico. Tacitus vai participar da preparação de maneira remota.
"O Tacitus está com a gente desde o começo, conhece bastante os meninos, sabe onde apertar e onde não, sabe como solucionar algumas situações. Ao mesmo tempo, o BobZ estar aqui é uma experiência legal, ele trabalhou muito com nós e com o Tacitus e acho que ele vai conseguir o suporte necessário", explicou arT.
"E o Tacitus nos ajudará durante todo o processo, antes e depois do jogo. Ele não estará fisicamente, no live, mas, até pelo jeito que a Valve implica com os treinadores... não é como se o treinador pudesse ter tanto impacto como antes. Ele, à distância, estará conosco o tempo todo", prosseguiu.
O primeiro desafio, na prática, é diante da FlyQuest, às 15h45 desta terça-feira. arT segue na linha de que adversário não se escolhe.
"Não vai ter oponente fácil. Estamos falando de um Major, então os times que qualificaram tem motivos para estar aqui, estavam treinando e virão com táticas prontas, com plano de jogo e mindset de vitória. Para nós o oponente é indiferente, a não ser que seja a Spirit, que aí complica um pouco mais (risos). Mas, no Stage 1, estamos tranquilos, queremos fazer nosso trabalho e aplicá-lo no jogo", contou.
Sem peso nos ombros
O Fluxo chega ao Major com o 16º seed do Stage 1 - na prática, é o time pior ranqueado entre todos os 32 da competição. Para arT, a condição ajuda para aliviar a pressão.
"Isso ajuda muito os jogadores a tirarem o peso dos ombros de ter a obrigação de ganhar e facilita um pouco a tomada de decisão, você não fica pensando no que seu erro pode acarretar, e isso é um ponto positivo. Obviamente o (ponto) negativo (existe) porque você tem partidas mais difíceis, mas é positivo porque conseguimos aplicar o CS que queremos com mais facilidade", explicou.
E, mesmo nessa condição, o Fluxo pode surpreender? arT acredita que sim.
"Estamos trabalhando para isso, sabemos que temos potencial para fazer bons jogos contra os maiores. Demos uma pecada contra brasileiros do tier 1, como Legacy e Imperial, mas fomos consertando aos poucos e conseguimos polir as festas que faltavam e sentimos que podemos aplicar nosso jogo com mais facilidade, que era algo que tínhamos muita dificuldade antes por pressão ou por desentendimentos. Agora clareamos as ideias para poder jogar de maneira mais sólida e fazendo o que queremos dentro do servidor", finalizou.
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