HEN1: "Não tenho mais tempo para ficar brincando"

Esqueça tudo. As baladas, as bebidas e as mulheres. Henrique "HEN1" Teles amadureceu. Conhecido por uma carreira de polêmicas, decisões controversas e pela habilidade que já o colocou entre os 20 melhores jogadores do mundo, o novo reforço do MIBR está mudado.

"Eu estou na melhor fase da minha vida pessoal, de amadurecimento e experiência. Já errei muito na minha vida, na minha carreira, mas procuro todo dia melhorar", contou HEN1 ao Dust2 Brasil.

"As pessoas sabem que não sou mais o Henrique de antes, que todo mundo fala. Não gosto muito de entrar nesse assunto, mas hoje sou um cara muito mais maduro", completou o jogador, que se vê com gás para voltar ao lugar que um dia já pertenceu.

"Quero mostrar não só para mim, mas para todo mundo que sempre falou muita coisa, ou que não acreditava em mim mais que eu estou aí. Não estou para aposentar, virar streamer, eu ainda tenho capacidade de ser um dos melhores do mundo de novo", completou.

HEN1 resumiu bem o novo momento da carreira: aos 27 anos, num CS cada vez mais dominado pelos jovens, o eterno Gêmeo não pode mais perder tempo.

"Não vou mais ficar nessa de vai e volta, de chegar ao topo e daqui a pouco 'pum', vai pra outro time. Não tenho mais tempo para ficar brincando", disse.

"Eu já não sou nem o Henrique que fui ontem. Estou maduro, experiente, responsável, podem me esperar com mil vezes mais vontade, dedicação, para voltar a minha melhor fase", completou.

Oportunidade

Depois de um primeiro semestre de altos e baixos, HEN1 foi deixado de lado no novo projeto de seus ex-companheiros da GODSENT. Sem time, o jogador voltou ao Brasil e passou a jogar mais CS, para manter vivo o sonho de jogar o Major do Rio de Janeiro.

"Assim que eu soube que eu iria sair da GODSENT, comecei a mandar mensagem para várias organizações, falando que eu estava disponível se precisassem. Lá atrás eu mandei mensagem, algumas já estavam com os times fechados, inclusive o MIBR", contou.

"Eu procurei me especializar mais no meu jogo, procurar evoluir mais coisas, independente de tudo eu nunca desisti. Eu fiquei tranquilo, sabia que a oportunidade ia vir, seja ela aqui no MIBR, em outros times ou com meu irmão", disse.

Jogar mais uma vez ao lado de Lucas "LUCAS1" Teles, sua outra metade, era uma possibilidade real para HEN1. Ele e o irmão gêmeo olharam para alguns jogadores em busca de montar um time, mas as multas dificultaram. Aí que pintou a oportunidade de substituir Marcelo "chelo" Cespedes no MIBR.

"O bit veio falar comigo e eu fiquei feliz pra caralho com a oportunidade surgindo. Falei com meu irmão, ele me apoiou, como sempre. Eu vim de braços abertos, já estou com 27 anos, querendo ou não é difícil, o tempo vai passando rápido, e vamos ficando meio sem novas oportunidades", afirmou.

"E começar do zero sempre foi muito difícil. Começar estando um pouco mais adiantado, com organização, com time pronto, me ajudou bastante, fico bastante feliz de estar aqui no MIBR", afirmou.

Na nova equipe, HEN1 tem se adaptado bem e rapidamente. Os treinos têm sido produtivos.

"A adaptação foi bem rápida, fiquei surpreso e eles também ficaram. Desde quando começamos a treinar, estamos muito fortes, ganhando os treinos. Não foi uma adaptação difícil, mas estamos ainda naquele processo (de compartilhar aprendizado), mas as coisas estão se encaixando", explicou.

Um dos motivos do encaixe fácil tem nome e sobrenome: Bruno "bit" Lima. Hoje treinador do MIBR, bit foi companheiro de HEN1 no passado, na Não Tem Como.

"O bit é sensacional. Eu já trabalhei com ele antes, e com certeza é um dos melhores treinadores do Brasil. Ele já jogou, inclusive foi um dos pioneiros no MIBR. Ele sempre foi meu parceiro, me ajudou bastante dentro do jogo, eu também ajudei ele muito quando jogávamos. O trabalho dele é essencial para o grupo. Todos respeitam ele e confiam no que ele fala", garantiu.

"O nak também está com a gente, é um pioneiro também, ambos tem muita experiência, já ganharam muitos campeonatos. Com o bit nos ajudando, dando suporte, podemos chegar muito mais longe do que com outro treinador", completou.

Fora do servidor, tudo também corre bem.

"Está super de boa, os meninos são muito sangue bons, dedicados e não tenho nada para falar", continuou.

Até mesmo o novo capitão, Jhonatan "JOTA" Willian, tem dado conta do recado. HEN1 elogiou a postura do rifler como líder da equipe.

"Ele é um cara que fala muito durante o jogo, está sempre procurando ajudar. Ele já tinha feito esse papel lá atrás, está voltando agora, e é um pouco difícil para ele, um cara que matava pra caralho, não tinha preocupação com muita coisa, e agora está pegando essa função de jogo. O jogo dele tende a cair um pouco, mas ele continua matando muito", disse.

"Consigo ver um futuro bacana com ele de capitão. Ele escuta o bit, me escuta, deixa a galera opinar muito no decorrer do jogo. É um cara que não desiste nunca, vi um pouco nestes campeonatos, não é um cara que fica reclamando, pensando no round passado, sempre fica vindo com soluções. Acho que, com ele de capitão, podemos chegar longe também", disse.

Com bagagem e "costa larga" para ser uma estrela, HEN1 garantiu que não terá problemas se for mais cobrado do que os novos companheiros.

"Em todos os times que passei, fui um nome muito citado, sei das minhas responsabilidades, sei o poder e o impacto que eu tenho, principalmente por jogar de AWP. E não me deixo levar por esse negócio de estrela, porque dentro do time todo mundo tem seu papel, uma importância. Claro que tenho experiência, vou ser um pouco mais cobrado, mas todos têm um papel importante. Se for pra eu ser esse cara, vou estar aqui para segurar a responsa.

Pode colocar no meu nome que eu não tenho problema com isso não", garantiu.

Tem bobo no CS:GO?

Mesmo que o MIBR tenha poucos dias de treino, o primeiro objetivo já foi cumprido. A equipe conseguiu superar os problemas e os adversários da primeira seletiva sul-americana do Regional Major Ranking (RMR) e já se garantiu no evento que dá vaga ao IEM Rio Major. HEN1 bota a classificação na conta do trabalho.

"Treinamos bastante, nos dedicamos muito, treinando em média das 10h da manhã até meia noite, duas (da manhã). Sabíamos que não seria fácil pelo fato de ser md1, mas é igual eu passei para a galera, o bit também, com a experiência que tem, passou. Falamos em jogar nosso jogo, igual nos treinos, esquecendo a obrigação, sabendo que teríamos outros qualificatórios, então tiramos esse peso de ter que ganhar e focamos em fazer o nosso", explicou.

"E conseguimos, a parte de md1 foi tranquila, não foi aqueles 16-13, 16-14. Foram aqueles jogos 16-8, e depois na md3 começamos a sofrer e foi ali que vimos que não era tão simples assim, aí continuamos falando em fazer o que treinamos", completou HEN1.

A série contra o Fluxo, dos ex-companheiros João "felps" Vasconcellos e Vinicius "vsm" Moreira foi uma verdadeira maratona. A equipe perdeu na Vertigo por 28-24, mas conseguiu virar com 16-11 na Dust2 e 16-13 na Ancient, garantindo a vaga.

"O time deles é bem forte, sabíamos que não seria um jogo fácil. felps, vsm, Lucaozy, são caras que têm muita propriedade. A Vertigo é um mapa que aconteceu de tudo. Eles buscando, a gente buscou, foi desgastante. Quando perdemos, falamos que jogamos bem pra caralho, e não foi um 16-0, 16-1. Ganhamos no nosso pick, e na Ancient sabíamos que iríamos começar de CT, então estava meio encaminhado pra gente, porque é um mapa que, se o TR não conseguir fazer muitos rounds, é muito difícil de voltar. Eles conseguiram chegar perto. Quando você não fecha, até quem é mais experiente já vai ficando (mais nervoso), mas graças a Deus conseguimos fechar", contou o awper.

"Comemoramos bastante essa vaga, sabíamos que o time do Fluxo era muito difícil. Os caras falam que o MIBR já estava com um time montado e tudo, mas o processo de adaptação é demorado. Eu sou awper, o chelo (que saiu) era capitão, o brnz4n estava fazendo outra função, a estrutura inteira do time mudou", disse.

Com a vaga nas mãos, o MIBR ainda jogou uma md1 contra a paiN, valendo o melhor seed da seletiva. HEN1 afirmou que o cansaço bateu e o time acabou derrotado.

"Não tirando mérito da paiN em momento algum, mas já estávamos muito cansados, já tínhamos jogado umas seis horas de CS. Jogamos uma md3 que foram três mapas pegados, não tivemos nenhum mapa fácil, e quando fomos para a md1 eu já estava muito desgastado, bem cansado, acredito que a paiN também estava. Sabemos que a seed é importante, lá na frente ela pode facilitar na decisão da vaga para o Rio, tentamos, lutamos, mas para nós foi difícil jogar", justificou.

Agora, HEN1 e seus companheiros têm 40 dias para brigar pela vaga no mundial, o grande sonho de todo jogador brasileiro. O awper sabe que não será fácil.

"É Major, todos os times que estão na próxima fase (no RMR) não são bobos. Vamos ter um bootcamp na Sérvia, vamos jogar outros campeonatos, depois tem Pro League, aí voltamos, fazemos outro bootcamp e depois vamos jogar o RMR. Daqui a 40 dias, estaremos mais preparados como time, vamos estar lutando pra essa vaga, mas não podemos vacilar. Espero que consigamos essa vaga para o Rio, pois todos querem jogar, vai ter muita gente abdicando de tudo para estar lá, inclusive nós", contou.

Um gostinho

Abdicar de muita coisa para estar no major, como HEN1 disse, não o fará diferente de ninguém nessa caminhada. O awper, porém, carrega uma motivação extra: quer acabar com um "gostinho" que ficou desde o segundo lugar no PGL Major Krákow em 2017.

"Eu sou um cara que já jogou vários qualificatórios de major, sempre batia na trave, e no único que fui, felizmente ou infelizmente, fiquei em segundo. Ainda tem aquele gostinho do major da PGL na Polônia, sei que poderíamos ter ganho", disse HEN1.

"E esse Major agora no Brasil tem um gostinho a mais, querendo ou não é no nosso país e eu vou fazer de tudo para classificar, como sempre fiz, e ter um gostinho de estar jogando um Major no Brasil. Sabemos que é muito difícil ganhar, tem times que já estão juntos há dois ou três anos, com uma base mais forte. É muito difícil, mas não é impossível. Só de estar lá já vai ser um objetivo cumprido, e é o que eu vou lutar para conseguir com o MIBR. Por vocês que torcem, meus fãs, minha família, e principalmente para meu irmão", continuou.

A ausência de LUCAS1, inclusive, é uma constante na carreira de HEN1. Nas entrevistas, nas rodas de conversa, nos chats de transmissões: onde há menção a um dos gêmeos, o outro vem logo depois. Jogando com a "Seleção do bt0", LUCAS1 dificilmente conseguirá se classificar ao mundial, mas HEN1 não duvida.

"Eu não desacredito do meu irmão, porque já vi ele fazendo muita coisa no CS e sei o potencial dele. Apesar dele estar jogando meio que zoando, na Seleça do bt, sei que ele vai dar o máximo para conseguir. Se ele não estiver lá (no Rio) jogando, ele vai estar comigo, certeza, vamos trabalhar (para isso). Ele me apoiou, como sempre, e eu sempre falei que tudo que eu faço no jogo é por ele também, porque ele é um cara que sempre esteve comigo. Desde quando eu nasci (risos)", contou.

E HEN1 afirmou que ainda deseja voltar a jogar ao lado de LUCAS1 em algum momento.

"Quem sabe daqui um tempo a gente possa jogar junto novamente, é meu sonho, mas no momento nossos caminhos ainda não se cruzaram, as oportunidades não vieram para nós dois. Eu sei do potencial dele, sei que ele é um cara muito bom, que se focar também vai conseguir. Torço muito por ele, sei que ele torce por mim também, e é isso cara, sei que, se eu conseguir essa vaga para o Rio, ele também vai estar muito feliz e vai estar comigo lá, quebrando tudo e torcendo", finalizou.