
coldzera elege seu auge e diz que CS brasileiro está muito confortável
O perfil The Gamers publicou, na última quinta-feira, a primeira parte do documentário de Marcelo "coldzera" David. No vídeo, o bicampeão de Major elegeu seu auge e opinou sobre o momento do cenário brasileiro.
"2016 cheguei a pesar quase noventa e pouco quilos e sou pequenininho, então estava bem grande. No final de 2016, pensei 'pô, se ficar desse jeito não vai dar'. Muita gente fala 'cold, qual foi seu auge? 2016 você ganhou dois mundiais, a Pro League, você era o melhor nessa época'. Não acho que meu auge foi em 2016. Foi em 2017, quando ganhamos oito títulos, chegamos em três semifinais e uma final. Foi muito campeonato."
"Nessa época de 2017 eu já estava fazendo dieta, com rotina mais regrada, tinha perdido 30 quilos. Sinto que foi meu auge de disposição, felicidade, vontade de jogar. Ter rotina, alimentação saudável e cuidar da minha saúde foi muito mais importante do que só jogar. Por conta desses quesitos, esse foi meu auge", seguiu coldzera.
Depois de vencer os dois Majors disputados em 2016, coldzera ajudou a SK a ser campeão de grandes campeonatos como IEM Sydney, ECS S3 Finals e a ESL Pro League S6 Finals - último torneio tier-S vencido por uma equipe brasileira - em 2017. Individualmente, foi eleito o melhor do mundo pela HLTV, assim como já havia sido em 2016.
Momento do CS brasileiro
coldzera também opinou sobre o CS brasileiro. O veterano, que compete desde 2013, lembrou que tinha muita cobrança e discussões no quinteto mais vencedor do Brasil, o que era importante para a equipe evoluir junto e nunca cair na zona de conforto. O jogador da RED Canids acredita que essa metodologia não funcionaria nos dias de hoje.
"Os jogadores de hoje são muito sensíveis a tudo. Se você falar algo, é 'ah não consigo mais jogar, você está me cobrando tanto'. Se colocar qualquer jogador de hoje para jogar na minha época, não durava um mês. Eu ganhava 1,5 mil dólares, com o dólar estando dois para um (real), dava uns 2,5 mil (reais) mais ou menos. Hoje, a pessoa entra no esporte eletrônico já ganhando de 4 a 6 mil reais, quase o dobro do que eu ganhava antes, e eles não valorizam tanto o que têm por ser muito fácil."
"A estrutura é melhor, tem mais incentivo, campeonato todo dia, muitas organizações, e antigamente não tinha nada disso. Furar a bolha era muito mais difícil. Se você é dedicado, se empenhar, se doar para o jogo e fazer acontecer por você, consegue furar, acho. Não tinha tanto incentivo antigamente, porém hoje em dia levam menos à sério do que levávamos na época, por ter resultados menos expressivos. 'Ah, você não tem o melhor time brasileiro formado junto'. Nós também não tínhamos. Eu e TACO éramos desconhecidos, mas fnx, FalleN e fer eram conhecidos. Dois dos cinco eram desconhecidos, e o fnx era uma bomba relógio, apesar de ser muito bom jogador."
"Na época, também tinham players com incerteza. Agora, o número de jogadores é muito maior, porém falta dar espaço para a molecada nova. Os times reciclam muitos jogadores e acho que é na parte do academy que os outros países ganham da gente. A Rússia, que tem um dos melhores times do mundo, outros (times) gringos também, todos têm academy e eles não reclicam jogadores, vão trazendo novos. Isso é interessante porque dá oportunidade para surgir um novo coldzera, s1mple, donk, ZywOo, que são os melhores do mundo."
"O que falta hoje em dia para o cenário brasileiro é criar um academy, dar oportunidade para a molecada nova e segurar eles, porque garanto que lá fora não é essa bagunça que é aqui. Alguns times têm academy (no Brasil), mas os jogadores só estão lá para mamar uma graninha. Lá fora, puxam mais a orelha para não deixar cair na zona de conforto. O cenário brasileiro é muito confortável atualmente, tem pouca cobrança. A comunidade cobra mais do que os próprios jogadores deveriam cobrar. A comunidade é um pouco tóxica, porém eles têm o direito de cobrar, todo torcedor tem, não dá para falar que não."
"Se você não está fazendo o seu trabalho direito, vai ter torcedor que cobra você e é a vida. Nós éramos muito cobrados quando caímos como equipe, o que é normal. Quando você está acostumado com um time brasileiro ganhando tudo e chegam novos times brasileiros que não produzem o mesmo resultado, vai ter cobrança. Decaiu muito do que era. 'Pô cold, tá mais difícil'. Tá, tudo bem, porém na nossa época também era difícil. Quando jogávamos no nosso pico, era o melhor pico do CS também para a gente. Se esse é o melhor pico, atinge, vai cobrar. A galera não aceita tanta cobrança."
"O que mudou bastante é que os problemas eram resolvidos muito mais rápido por estarmos morando juntos na GH, tínhamos uma casa onde morávamos juntos, então a gente se via diariamente e cobrávamos diariamente. Nunca caia na zona de conforto. Hoje em dia é mais difícil porque a galera só quer ficar dentro de casa. Você pode ter resultados decentes com cada um jogando da sua casa, porém os times evoluem muito mais rápido quando estão morando juntos ou fazendo um bootcamp. Isso é nítido, porque se não, ninguém faria bootcamp na Europa para treinar e jogar campeonato. Acho que os times entendem pouco isso", finalizou coldzera.
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