
Custos, viagens e planejamento: visão dos times e das organizadoras sobre as LANs
FERJEE Rush, Birch Cup, Fragadelphia Blocktober e Circuit X foram alguns dos torneios em LAN que aconteceram na reta final da definição dos times convidados para o próximo Major, frutos do novo formato de classificação da Valve.
Estes campeonatos exigem certa complexidade para serem realizados, além de custos para as organizadoras e também para os times, que precisavam pagar uma taxa de inscrição para disputarem o torneio. Em alguns casos, as equipes jogaram até mais de um destes campeonatos, tendo gastos maiores com viagens, além de precisarem pagar mais de uma taxa de inscrição.
Os gastos, viagens, maratona de jogos e mais tendem a se justificar quando o time consegue a vaga para o Major, porém podem ser fatores amplificados negativamente caso a equipe fique de fora do mundial. E, pelo lado das organizadoras, o que pode fazer justificar os custos e o planejamento?
Assim, a Dust2 Brasil procurou representantes da FERJEE e do Circuit X - organizadoras que realizaram torneios no Brasil na reta final - e do Fluxo e da BESTIA - um time que passou para o Major, enquanto o outro ficou de fora do mundial.
Lado das organizadoras
FERJEE
A FERJEE contou que a ideia de realizar o RUSH surgiu depois de um tweet de Adriano "WOOD7" Cerato, que pediu mais LANs no Brasil para dar mais pontos ao VRS para os times brigarem pela vaga no Major, embora a empresa já tivesse realizado o Circuito FERJEE anteriormente.
"A partir daí, começamos a estudar o regulamento e pensar em como poderíamos montar um campeonato competitivo, mas que também entregasse um padrão visual e técnico de alto nível. Em paralelo ao CFE, estruturamos o RUSH para ter 16 times em LAN, com o objetivo de atribuir a maior quantidade possível de pontos no VRS", falou a FERJEE via Cadu Albuquerque, presidente da Federação.
A taxa de inscrição que os times precisavam pagar para participarem da FERJEE Rush era de R$ 5 mil. Como 16 times jogaram o torneio, a organizadora faturou R$ 80 mil com a taxa, sendo a premiação total de R$ 150 mil.
"O RUSH não é um evento economicamente sustentável. A taxa de inscrição cobre apenas uma pequena parte dos custos operacionais, como aluguel de equipamentos, estrutura de rede, transporte e alimentação. Nesta edição, serviu apenas para custear metade da premiação. A outra metade, assim como as outras despesas, foram viabilizadas por outras formas de investimento. Ainda assim, o objetivo principal sempre foi proporcionar uma experiência competitiva de qualidade e fortalecer a cena latino-americana de Counter-Strike, e não gerar lucro."
O prejuízo financeiro não é o único problema enfrentado pela organizadora, já que há também a necessidade de encontrar pessoas para participarem da arrumação de toda a estrutura do torneio. Problemas técnicos marcaram a FERJEE Rush, com o primeiro dia chegando ao fim depois de 18 horas.
"Tivemos dois dias para montar tudo, o que exigiu muito do nosso time técnico, que trabalhou dia e noite. Mesmo com imprevistos, principalmente relacionados à internet, conseguimos colocar o campeonato de pé e tirar muitos aprendizados dessa primeira edição. Hoje trabalhamos com planos B, C e D para qualquer situação técnica e seguimos reforçando o cuidado com o bem-estar dos atletas, oferecendo suporte físico e psicológico durante todo evento."
"O saldo final foi muito positivo. Vimos times como MIBR e RED ganhando posições no ranking, o que mostra o impacto que o RUSH teve para o cenário. Além disso, conseguimos proporcionar a primeira experiência em LAN para alguns times, algo fundamental para o desenvolvimento competitivo e para o amadurecimento dos jogadores. Nosso foco está em seguir profissionalizando cada vez mais a operação e a estrutura dos eventos. Temos a intenção de realizar uma segunda edição do RUSH, porém nossas atenções estão voltadas para o Rainhas do CLUTCH e o CBCS atualmente", seguiu Cadu Albuquerque.
Circuit X
Logo após o fim da FERJEE Rush, foi a vez do Circuit X ter início. Em Curitiba, o campeonato foi o primeiro da organizadora, que ainda não havia realizado nenhuma LAN. Carlos Passow, investidor e proprietário do Circuit X, falou dos desafios para realizar um campeonato nessas condições.
"Torneio novo não vende só uma competição, ele vende confiança, sonho e experiência. Você precisa investir mais do que ganha no começo pra mostrar que “tá pra jogo” e que é coisa séria. Mas a boa notícia é que, quem passa pelo inferno das duas primeiras edições, constrói um ativo com alto potencial. Se o campeonato é novo, porém a organização é experiente, isso precisa estar claro em cada postagem, conversa, anúncio e entrega. A credibilidade já existe, ela só precisa ser comunicada de forma inteligente."
Passow aponta que um dos desafios é encontrar as pessoas certas e achar a estrutura para conseguir montar um campeonato desses, que exige bastante planejamento. "Um torneio desses não é só montar tabela e chamar time, é pensar cronograma ideal, o fluxo de comunicação dos times, com regras claras e bem redigidas, além de ter plano de contingência".
O tom segue o mesmo da FERJEE quando se fala sobre custos. O Circuit X também contou com 16 times e taxa de inscrição de R$ 5 mil, com R$ 80 mil faturados no total.
"Se o objetivo for o lucro direto e imediato, dificilmente um torneio novo, sem tradição, vai se pagar. Os custos de espaço, estrutura técnica, equipe operacional, premiação, divulgação, staff, limpeza e alimentação são muito altos".
Passow citou que o Circuit X teve um custo total de R$ 1,5 milhão, com a empresa levando menos de R$ 100 mil com a receita de inscrições. Assim, o déficit foi de R$ 1,4 milhão, conforme citado por Passow. "É um buraco considerável e, se olhar só por esse lado, é inviável".
Mesmo com este rombo financeiro, o Circuit X já tem um torneio planejado para novembro, e a previsão é que a organizadora siga realizando campeonatos.
"Fomos bem avaliados pelos times e pelos profissionais que participaram. Sabemos o peso da responsabilidade e do valor do que estamos construindo. O primeiro campeonato mostrou do que somos capazes, enquanto o segundo vai confirmar que não estamos aqui por acaso. Nosso foco não é apenas fazer bonito, mas criar um produto de alto nível que atenda times, atletas e, principalmente, a comunidade. Nosso papel é somar."
"Temos um plano grande e de longo prazo. Temos um roadmap estruturado para os próximos seis meses, com foco em oferecer excelência até o próximo corte do Major. O que planejamos para 2026 ainda não está público, porém é ambicioso e vai elevar o cenário. Estamos moldando uma estrutura não só para os atletas, porém também para o torcedor, o criador, para o fã, um espaço onde todos possam pertencer", explicou Passow.
A visão dos times
Fluxo
O Fluxo não esteve presente na FERJEE Rush, já que tinha compromissos na ESL Pro League S23, mas disputou o Circuit X e, antes disso, esteve em duas edições da Fragadelphia, na América do Norte. No último dia de campeonato, a equipe conseguiu a vaga para o Major.
"Com a mudança do sistema de classificação para os Majors, que encerrou o RMR, essas LANs agora são de extrema importância para se alcançar os objetivos. Isso aumentou a atenção das organizações que não estão na bolha dos convites para os grandes campeonatos, porém o custo dessas viagens acabou sendo muito elevado, ultrapassando o teto de gastos da maioria das equipes. Estimo que cerca de 90% das organizações não tinham previsto despesas tão altas e tão imediatas", contou Gabriel Kohn, manager do Fluxo.
"Por exemplo, ao disputarmos as duas Fragadelphias na América do Norte, a primeira no Canadá e a segunda nos Estados Unidos, os custos de cada viagem tiveram que ser 100% cobertos pela organização, considerando passagens, hospedagem, inscrição, alimentação e deslocamento. Um valor alto, mas, para o Fluxo, justificável pela chance de ir ao Major."
Entre essas viagens realizadas pelo Fluxo, está a ida de Estocolmo , na Suécia, para Curitiba. O time chegou ao Brasil de madrugada e, no mesmo dia, estreou no Circuit X. Os gastos foram justificáveis pela chance de ir ao Major, assim como os desgastes.
"Saímos da Suécia direto da Pro League, sem conseguir performar do jeito esperado, e tivemos que viajar para Curitiba e jogar logo no dia seguinte. Foi um deslocamento e desgaste físico enormes, mas necessário para buscar a classificação. Os investimentos valeram a pena para o Fluxo. Os problemas enfrentados foram mais de desgaste físico, devido ao longo deslocamento, e financeiros do que técnicos."
Kohn pontuou que o Fluxo teve contratempos nas LANs na América do Norte, algo que não aconteceu no Circuit X. "Mesmo montado às pressas, o evento surpreendeu pela qualidade de atendimento, atenção e equipamentos. Foi de altíssimo nível, especialmente para um evento local".
Embora feliz com a vaga no Major, Kohn faz uma ponderação sobre o VRS.
"No geral, o balanço foi positivo para nós, pois conseguimos alcançar o Major. Em relação à pontuação do VRS, acredito que é necessário um reajuste no peso de cada evento, pois não faz sentido todas essas LANs pontuarem por igual. Exemplo: Uma Pro League não pode conceder os mesmos pontos que um torneio regional. Entendemos que é comum, ao remodelar um método que impacta o mundo todo, mudanças acontecerem, e eu acredito que elas serão reavaliadas para 2026", concluiu.
BESTIA
Pelo Fluxo, os custos e os desgastes foram justificados com a vaga no Major. No entanto, nem todos os times que jogaram as LANs saíram com a tão desejada classificação - como foi o caso da BESTIA, que ficou fora do StarLadder Budapest Major.
Manager da BESTIA, equipe que jogou a FERJEE Rush e a Frag Blocktober, Rodrigo "pino" Manarino comentou a briga pela vaga com as novas LANs.
"O custo é alto, mas temos que investir porque, se não jogarmos as LANs, não é possível classificar. Temos que nos adaptar e investir além disso. O planejamento foi muito complexo, porém creio que tenha sido igual para todos."
"Gostei dos formatos das LANs, embora o da Fragadelphia tenha sido mais corrido porque tinha muitos times. Mesmo sem a classificação, acho que vale a pena porque a experiência em LAN é boa se você quer performar melhor em um evento importante", finalizou.
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