De volta ao competitivo, felps quer time para ficar "até o final da carreira"

Em entrevista à Dust2 Brasil, o jogador disse estar cansado de passar por muitas equipes

João "felps" Vasconcellos tem 25 anos e uma carreira vitoriosa, tanto em solo nacional quanto internacional. Em retorno ao competitivo após mais uma pausa, o jogador tem um desejo definido: participar de um projeto à longo prazo.

"Eu acho que estou cansado também de ficar em times diferentes. Quero fixar em algo até o fim da minha carreira, sendo bem sincero. Isso entra naquela parte de eu estar olhando todas as opções calmamente para tomar a melhor decisão. Acredito que seja uma parada que eu preciso ir com calma, já que meu objetivo é ter algo à longo prazo. Quando falo longo prazo, são anos, tentar até o final da minha carreira", disse o jogador em entrevista à Dust2 Brasil.

felps despertou interesse do Fluxo. A organização também sondou Adriano "WOOD7" Cerato, Lucas "Lucaozy" Neves, Lucas "lux" Meneghini e Vinicius "vsm" Moreira. felps confirmou que houve conversas com o Fluxo, mas não confirmou se a tradicional equipe do Free Fire vai ser sua nova casa.

No entanto, o jogador prometeu que está próximo de assinar o contrato e fechar com seu novo time. Sobre a lineup especulada, ele só teceu elogios.

"Pega as maiores promessas do Brasil, se elas estão juntas, esse time já se torna muito viável para ir pro major. Vê a paiN com biguzera, nython, hardzao, MIBR com brnz4n, chelo. Uma lineup com lucao e vsm, com o lux que é um grande jogador, uma grande promessa. Obviamente tem chances. É ser guiado para chegar até lá, entendeu. Existem muitos jogadores bons, mas têm que ter o CS correto para poder chegar lá porque não é fácil".

"Não adianta só ter uma line com grandes promessas, você tem que botar dentro do server para ver se vai ser uma potência mesmo para poder chegar no major. A própria Imperial, por exemplo. Quando eles foram especulados e saiu a line, falamos que esse time ia estar no major. Foram lá e comprovaram isso dentro do server. Acredito que um time com esses nomes com certeza seria mais uma esperança para o CS brasileiro", continuou felps.

Se precisar, felps garante que está pronto para guiar os jogadores mais novos para o caminho certo dentro do servidor. Ele, que já exerceu esse papel na GODSENT, diz se sentir confortável sendo a voz da experiência.

"Você só tem que ir reforçando e orientando para os erros serem consertados. Eu fiz isso pela GODSENT, foi muito legal, e busco fazer de novo. Não sei se vou precisar fazer, se for um time com garotos sim, mas se for um time mais experiente não. Caso eu precise, não tem problema nenhum".

João em desordem

felps celebra o momento em que esteve ao lado da GODSENT, principalmente por ajudar o time a sair do zero, com jogadores novos, até a 12° posição no ranking da HLTV, alcançada em janeiro de 2022. No entanto, nem tudo eram flores na época.

Embora o time estivesse subindo no ranking, João estava em um momento terrível - o que afetou felps. Em vídeo recente, o jogador falou dos motivos que acarretaram na sua saída da GODSENT. Entre eles, estão o acidente que sua namorada sofreu em uma viagem para Dubai, no fim de 2021, quando ele pretendia pedi-la em casamento, além de um problema de saúde pessoal e a necessidade de ajudar a família com outros problemas.

"Não é algo que você pode expor tão facilmente, então na época preferi ficar em silêncio e tentar recuperar o bom trabalho. Foi algo que me prejudicou bastante. Acredito que quanto mais velho vamos ficando, mais responsabilidade a gente tem, principalmente sobre a família. Eu tive essa parada muito cedo. Acaba que quase tudo que acontece aqui (em casa), sou meio que o responsável por tentar arrumar.

"Aconteceram coisas que eu nunca tinha passado que foram fora do controle, parecia que eu estava pagando por algo que fiz de errado. Viagem que era para ser de um jeito acabou sendo de outro, problema de cabeça de familiares, acaba que a gente não tem como resolver tudo em tão pouco tempo", relembrou.

felps pela GODSENT no Play-in da IEM Katowice

Os problemas pessoais que felps enfrentou também afetaram o seu lado profissional. O jogador lembra que precisava resolver urgências durante os treinos, o que atrapalhava no deu desempenho individual e também no do time. Assim, Ricardo "dead" Sinigaglia decidiu conversar com o João.

"Peço desculpa se decepcionei os fãs com a saída naquela época, mas era algo insustentável. Eu tentava de tudo e não conseguia jogar bem apesar de eu tentar me dedicar. Chegava na hora no server eu não conseguia desempenhar o meu papel, a vontade de ficar jogando não estava a mesma, a cabeça com muitos problemas. Situações que eu tinha que resolver durante o treino, pegar o WhatsApp e falar 'pera aí galera, preciso responder aqui urgente'".

"Ficava o tempo todo assim e acaba que afeta o desempenho geral. Acho que a a decisão foi boa. Foi um conjunto de eu estar prejudicando o time, o dead ver que eu estava mal e tomar uma decisão junta. Ele falou 'vamos cuidar do ser humano'. O dead sempre fala: 'vamos cuidar do João primeiro, para depois pensar no felps'".

Uma situação que felps ainda não resolveu completamente é sua saúde. No vídeo, o jogador disse que estava com uma doença e que talvez até precisasse realizar a cirurgia. Ele preferiu não dar detalhes, mas afirmou que "está quase sanado", porém foi algo que já lhe fez "chorar várias vezes" por enfrentar a doença enquanto viajava.

Os problemas de saúde fizeram felps até pensar em se aposentar do CS:GO, mas, se recuperando, o jogador começou a preparar seu retorno ao competitivo. Voltar da pausa pós-GODSENT será mais tranquilo do que foi em 2018, após deixar a SK.

"Envolve muito oportunidades. O CS brasileiro não era como é hoje no sentido de oportunidades. Aquela época eu fiquei afastado mais por falta de oportunidades e por não acreditar em projetos que eram muito difíceis de dar certo. Mas essa pausa pós-GODSENT não vai ser tão difícil porque eu consegui reestruturar bastante coisa e meu jogo não diminui assim. Com um tempo, vou recuperando a forma, assim como quando entrei na GODSENT. Eu estava um tempão jogando na BOOM, entrei na GODSENT e era outro estilo de jogo".

"Com dois, três meses, eu já estava bem adaptado. Então acredito que essa pausa vai ser mais de boa. Aquela era mais complicada por falta de opções, por falta de times lá fora, era algo mais complicado apesar de eu ter vindo de um time que ganhou tudo no ano retrasado. Agora vai ser um pouco mais de boa", avaliou.

No último mês, felps já começou sua preparação para voltar à forma. Um dos maiores fatores que incentiva o jogador a evoluir é a dificuldade que ele encontra nos lobbys.

Eu sempre começo e acabo me deparando com muitos moleques bons, muitos jogadores bons de mira. Isso me irrita, perder e morrer para esses caras e acaba que isso me torna mais produtivo. É muito bom o CS brasileiro estar nesse nível em questão de fazer com que você vá melhorando, se não não vai conseguir ser o que você era antes. Isso é bom porque mostra que preciso melhorar, jogar mais que os outros, treinar mais, ver mais demos, para poder estar melhor que a nova geração. Quando digo isso é qualquer um que pegamos em um lobby, qualquer um. Eu sempre me cobro e digo isso em todas as entrevistas. Quando estou jogando aqui no Brasil, eu me cobro para ser o melhor nacionalmente. É isso o que vou tentar ser mais uma vez.

Interesse d'O Plano

Nessa busca pelo melhor time do Brasil, felps teve a oportunidade de se juntar com outro nome bem experiente: Vito "kNg" Giuseppe. felps confirmou que conversou com seu ex-companheiro de equipe sobre a possibilidade de ir ao O Plano.

"O kNg chegou a conversar comigo sim, mas é aquilo que eu falo. Eu falei na live que eu estou tentando tomar a melhor decisão. Não posso sair entrando e beleza. Eu tinha tempo para analisar calmamente, esperar algo. O projeto do kN é muito louco, muito legal, parabéns para ele por estar organizando isso. É bom para o cenário. Mas não me vejo agora nele. Acredito que eu tenha opções que são melhores para mim".

Chave de ouro

Por mais que felps queira entrar em um projeto à longo prazo, o primeiro objetivo do seu futuro time já está definido: participar do IEM Rio Major. A proximidade do mundial influenciou na escolha do jogador pela sua nova equipe.

"A gente também tenta montar o melhor que dá para estar nesse major, independente se vamos ganhar, passar pros playoffs. Isso é o de menos. O importante é estar lá e falar que joguei um major na minha casa. É o principal objetivo de todos os brasileiros nesse momento. Estando lá, vemos o que vamos fazer, quais são as possibilidades".

"Temos que ver se o time vai chegar no major com um nível legal, se vai ter capacidade de melhorar durante o major, são muitas coisas a serem discutidas. Mas para chegar lá, em tão pouco tempo com jogador ou time novo, vai ter que ser com jogadores capacitados obviamente. O principal objetivo é o major no Rio, e um dos principais pontos que me faz querer jogar", disse.

Felps com a GODSENT no PGL Major Stockholm

Embora ainda esteja em dúvidas se vai passar o segundo semestre atuando no Brasil ou no cenário internacional, felps tem a certeza que, se ficar em solo brasileiro, quer repetir a dominância que teve com a BOOM em 2020.

"Se eu tiver que jogar aqui, quero estar aqui para ser dominante igual foi na BOOM. Quando decidimos que íamos ficar no Brasil pela BOOM, falamos 'cara, temos que ser avassaladores, se não vamos ser só mais um time'. E basicamente foi isso que coloquei na minha cabeça. Sempre falo e sempre comento. Quando vir jogar no Brasil, quero ser o melhor estando aqui em solo nacional".

"Vou tentar ser e tentar fazer minha equipe dominante (no Brasil). Para aí falarmos 'vamos para fora porque temos grande potencial'. Mas é aquilo, dominar é ganhar tudo, de 10 campeonatos ganhar 8, aí realmente não tem o que fazer. Não são dois, três campeonatos que vão dizer isso. Acredito que temos que ser constantes que nem a BOOM em 2020. Se isso acontecer, aí fico feliz", disse.

Semifinalista de dois majors, felps tem o sonho parecido com o da maioria dos jogadores de CS:GO: quer vencer um major. Ele não esconde que vencer o mundial vai significar o fim de um ciclo da sua carreira.

"Seria o final perfeito. Claro que se eu ganhar o major esse ano eu não vou parar no ano que vem, mas é um ciclo que se encerra. Quando você ganha o major, para pessoas que estão há muito tempo tentando, é um ciclo que se encerra perfeitamente. Isso não se encaixa com o b1t da NaVi, ele ganhou no primeiro ano dele, mas para mim, kNg, HEN1, LUCAS1, qualquer brasileiro que não chegou lá tirando os cinco, se encaixa, porque eles estão tentando, há muito tempo na batalha, e quando ganhamos algo assim é Copa do Mundo".

"Você pode falar o que quiser, eu tenho uma Copa do Mundo. Ganhar ESL Cologne, ECS, é top, mas não é major. É isso que falta para a carreira de qualquer um. Quando alguém ganha o major, independente se ele vai ganhar mais títulos na carreira ou não, é algo que se completa. Ter o major é a mesma coisa que você falar que ganhou 20 ESL Pro League. É gigantesco, muito gigantesco", finalizou felps.

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