
Aposentadoria, MADHOUSE x Gaules e Tom & Jerry: FalleN abre o jogo antes do Major
Já fazia um tempo que Gabriel "FalleN" Toledo não chegava à um Major como ele está chegando em Budapeste. Líder do ranking da Valve, da HLTV e principal favorita ao título do StarLadder Budapest Major, a FURIA passou as últimas semanas revezando entre descanso, preparação e, é claro, empolgação.
"Durante a sequência de campeonatos, você vai ficando empolgado com cada troféu que vai ganhando. Como toda semana tem muito jogo, você não passa por uma sessão de treinamento, então o clima é sempre de competição e, como está ganhando, é muita alegria", contou FalleN em entrevista à Dust2 Brasil durante o media day do Stage 3.
"Óbvio que tem uma derrota aqui ou ali, mas, no geral, muita positividade. Agora que tivemos duas a três semanas de pausa, foi normal, como já havia sido anteriormente. Um pouco de criticismo em relação ao que temos que melhorar, às coisas que precisamos fazer diferente", continuou o jogador.
De volta à Malta nas últimas semanas, FalleN disse que o time primeiro descansou e depois começou a se preparar para o mundial.
"Os primeiros quatro a sete dias pós-campeonatos foram de bastante exaustão. Foram tantos campeonatos consecutivos que, quando passa toda essa energia, precisamos dar uma refrescada e resetar um pouco. Até o início, os treinamentos voltaram um pouco ruins, nós já puto porque estávamos jogando mal nos primeiros dias, mas temos que encontrar a solução e voltar à forma o mais rápido possível", disse.
"Fizemos bem isso durante o bootcamp. No começo foi aquela exaustão, tentamos recuperar a energia para voltar aos trabalhos e, nas últimas semanas, houve uma intensificação. Acredito que chegamos bem para o torneio. Estamos jogando bem, fizemos algumas mudanças que sentíamos que eram necessárias, mas sem perder a identidade de como nós vínhamos jogando. É um time que vai jogar parecido com o que já joga, porém com pequenas diferenças que achamos importantes", completou.
Essas pequenas diferenças podem ser essenciais. FalleN sabe disso e busca um balanço de identidade.
"Temos que tentar fazer um pouco de mea-culpa no jogo para não esperar ser muito óbvio. Você precisa tentar achar esse balanço. Os treinos foram muito sérios, como sempre são, não teve uma diferença por estar ganhando, mas a confiança da equipe muda. Vamos para o jogo sabendo que podemos vencer; internamente, cada jogador também se sente mais forte com cada título. A confiança é o que mais muda com as vitórias", disse.
Tom & Jerry
Em entrevista ao podcast Linked, FalleN disse que é preciso "ter humildade para reconhecer as mudanças" e o fato dele ter ganhado no passado não significa que ele voltaria a vencer. Questionado sobre quais são essas mudanças, o Professor partiu para o futebol.
"Imagine um jogo de futebol em que comparamos com o jogo lá atrás, onde há tanto material de estudo e tanta coisa para aperfeiçoar cada jogador em sua própria posição, que o trabalho sem a bola, de marcação, é muito mais fácil de ser compreendido pelos jogadores hoje, e todos aplicam isso de maneira muito mais forte", explicou.
"Estamos jogando um game de CS hoje em que, se você mostra um pouquinho só da face da jogada que está fazendo, o outro cara já interpreta e toma uma decisão em cima daquilo, já reage, pega um espaço que não devia pegar. Lá atrás, muitas vezes o jogador era mais estático. Essa leitura, por todos os jogadores da equipe o tempo todo, acontecia com frequência menor. Hoje o jogador está mais preparado, as reações acontecem mais, por conta própria de cada indivíduo", continuou.
A estrutura, segundo FalleN, melhorou em todos os sentidos.
"Os materiais para estudo são muito mais fáceis. Lá, se queríamos assistir a um jogo, estudar um adversário como a NAVI, por exemplo, na Overpass, teríamos que ir nas VODs, demos, fazer um trabalho devagar. Hoje o cara tem ferramentas que, com poucos cliques, já captam o que quer ver; há analistas ajudando. As ferramentas ajudaram muito a evolução da galera, então o jogo está mais competitivo por esse motivo", completou.
Para o capitão, o CS virou uma briga de gato e rato no melhor estilo desenho animado
"O jogo tem uma certa briga de Tom e Jerry o tempo todo. No momento, tal coisa é boa por tal motivo, mas esse motivo fica tão óbvio para todo mundo que eles desenvolvem algo contra esse motivo; então surge uma coisa nova que 'é, isso não fazia sentido antes, mas agora faz muito por conta disso'. Essa é a coisa nova que muitos times estão usando, aí chega uma hora que "pô, já inventaram uma nova'", disse FalleN.
Pantera ou Rato?
E, seguindo a linha de FalleN, a FURIA é o Jerry. No topo do ranking e vindo de três conquistas, a equipe é, sem dúvidas, a mais estudada do mundial. Isso não preocupa - tanto -, o capitão.
"O único temor que eu tenho, e é a única coisa que tento trabalhar com a equipe, é tentar preservar aquilo que nos fez chegar até aqui em sete meses. Nessa tentativa de preservar algumas coisas importantes, não tem muito espaço para ter medo dessas coisas. Temos que nos preocupar em não trabalhar direito - é algo que não pode acontecer -, brigar um com o outro durante o jogo, não fazer a melhor comunicação possível em cada jogada, deixar de acreditar durante uma partida. São essas coisas que, muito bem feitas durante alguns meses, nos trouxeram até aqui", disse.
"Minha preocupação é entrar no campeonato e não replicar essas coisas, seja lá por qual motivo for. O que vai acontecer em termos de resultado, se sabem muito da gente ou não, se vamos ganhar ou não, não controlamos nada disso. Minha mensagem para o time nessas últimas semanas, e minha intenção nesse campeonato, é manter aquilo que nos deu chance de competir esses títulos. A vitória não foi garantida nos últimos eventos que jogamos e também não vai ser agora. Entendo essa intenção mental de se apegar em alguma coisa que garante que você ganhe o próximo, mas essa coisa não existe. Temos que brigar por todos eles, e os próximos não serão diferentes", completou.
Aluna campeã
E, enquanto o Professor se prepara para brigar pelo seu terceiro título mundial, uma de suas alunas mais ilustres conquistou o seu. Natália "daiki" Vilela, que participou da série "Kids Academy" no YouTube de FalleN, foi campeã do VALORANT Game Changers, o mais importante título do VALORANT inclusivo.
"Fiquei muito feliz de ver ela, mais uma vez, se dando bem. Da última vez que a parabenizei foi quando ela ganhou o prêmio de melhor atleta feminina do Brasil, e agora ela ganhou um campeonato mundial, o Major de VALORANT. Isso é muito legal, parabenizei ela na internet. Acabei não trocando mensagem no privado, mas vi que ela respondeu também. Assisti aos clipes das vitórias. Não acompanho VALORANT no dia a dia a ponto de dizer que assisti à partida porque estamos muito ocupados, mas vale a pena. Gostaria, em algum momento, de fazer um react, ver como ela, que foi MVP do torneio, está jogando", disse.
FalleN relembrou com carinho do projeto e, é claro, de seu impacto fora do servidor.
"Isso reforça, para mim, a chance de positividade que tenho na vida dos outros quando tenho tempo para fazer algumas coisas, como foi esse projeto. Foi algo que fiz de bobeira, estava em um momento ocioso em casa. Foi um conteúdo legal de fazer com pessoas que eram bem jovens na época. O snow está na paiN, está no Stage 3 também, a daiki está aí. Eu focp feliz de saber que impulsionei de alguma maneira e dei uma pequena motivação para a pessoa seguir o caminho dela. Os créditos e a honra, obviamente, são todos dela, nós só temos um pedacinho da história e ficamos felizes por sermos lembrados", completou.
Repartindo o bolo
FalleN também falou sobre a mais recente polêmica envolvendo a MADHOUSE TV - da qual a FURIA é sócia -, e Alexandre "Gaules" Borba - seu ex-treinador e amigo de longa data. O jogador reforçou que há espaço para todo mundo.
"Acredito que o espaço de transmissões no Brasil é muito visado. O Gaules acabou ocupando essa posição nos últimos anos, mas temos muitas histórias que vieram antes dele também e pode ser que tenham outras que venham durante ou após. Nunca podemos sintetizar algo em só uma pessoa. Assim como não sou só eu o Counter-Strike do Brasil, o Gaules também não é só ele de transmissão. Tem muita gente boa para trabalhar no Brasil e espaço para mais gente fazer coisas", ressaltou.
"Espero que o pessoal foque em prestigiar aqueles de quem gostam e não fique perdendo muito tempo gastando energia com o que não gostam. 'Pô, tenho uma preferência pela MADHOUSE, vou lá encher o saco do Gaules', ou 'Tenho uma preferência pelo Gaules, vou encher o saco da MADHOUSE”. Aí você está só usando essas plataformas para destilar ódio na internet", completou.
Para FalleN, a disputa pode ser benéfica para todo o ecossistema.
"Deixe o business acontecer; toda competição é saudável. Quando temos mais pessoas tentando buscar o mesmo espaço, quem acaba ganhando são os outros que estão ao redor. Quem sabe as equipes acabam se beneficiando disso, outros jogadores, porque quando o bolo está na mão de uma pessoa só, nunca é bom para todo mundo".
Gás para queimar
E o assunto da aposentadoria, é claro, voltou. Em reta final de contrato com a FURIA, FalleN disse que ainda não tomou uma decisão sobre o futuro, apesar de deixar claro que há uma boa chance que ele renove o vínculo e não pendure o mouse após o mundial.
"Tenho pensado sobre isso; esse momento é um momento que dá dó de parar de jogar, com um time tão bom. Porém, ao mesmo tempo, é o melhor momento porque, se você pensar no pior caso possível - não ganhamos mais nada até o meio do ano que vem e 'ah, vou parar" -, tem várias vertentes para pensar", explicou.
A ideia de parar "no auge", com a FURIA campeã mundial e no topo dos rankings, apesar de sedutora, não é a que mais atrai FalleN. Para ele, vale mais parar quando um substituto estiver bem encaminhado.
"Não tenho muito isso, não estou muito apegado assim. Sinto que é mais importante eu parar em um momento em que tenha uma reposição à altura, para os companheiros estarem jogando com alguém de quem vão gostar, que vai dar uma boa sequência no trabalho. Acho que isso é mais importante do que parar ganhando para mim", contou.
"É mais uma questão de preparar outra pessoa, sentir que abriu uma janela de transferência e tem alguém que a gente ache que vai casar bem no time. Todas essas coisas são importantes também", completou.
O Verdadeiro garantiu que a decisão final ainda não foi tomada.
"Acho que tenho um pouco de gás para queimar ainda. Tenho conversado com o pessoal, mas a cabeça está focada no Major agora e poderemos conversar disso pós-break, que vamos ter um tempo depois do Major para acertar o ano que vem", completou.
"Estamos pensando, mas as chances (de continuar jogando) são boas", finalizou.
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