fox em entrevista à Dust2 Brasil em Lisboa

fox sobre Last Dance: "Estão nos calando mais uma vez, fazendo história mais uma vez"

Português, que jogou ao lado dos brasileiros em 2017, falou sobre a reunião e a atual fase da carreira e do cenário luso

Principal jogador da história do CS:GO português, Ricardo "fox" Pacheco ficou empolgado ao ver o "Last Dance" acontecer mais cedo neste ano. Responsável por substituir Lincoln "fnx" Lau por dois campeonatos entre 2016 e 2017, o jogador comentou a reunião dos ex-companheiros durante a BLAST Premier Spring Final.

"A equipe tinha que ser feita, acho que foi vontade de todos os jogadores, pela história que tem, ganharam tudo no Brasil e mundialmente, não havia outra maneira. Fiquei entusiasmado em os ver juntos", disse fox em entrevista exclusiva à Dust2 Brasil.

fox também elogiou a atitude de Gabriel "FalleN" Toledo com fnx. Desde o começo, o Professor tem destacado que um dos motivos de projeto é dar um final de carreira digno para o companheiro, que estava afastado do cenário profissional.

"Adorei a atitude do FalleN perante ao fnx, quando disse que ele não merecia terminar a carreira da forma que estava, sem jogar, e dar, entre aspas, uma última oportunidade. Acho que isso é uma atitude de um homem que não há muitos", disse.

O português admitiu que o desempenho do time, que foi ao Challengers Stage no PGL Major Antwerp e se classificou para a IEM Dallas tem superado suas expectativas.

"Sendo sincero, não pensei que iam estar ao nível que estão. O fer ficou muito tempo só streamando e foi o principal jogador que me calou a boca, porque está numa forma descomunal. O FalleN é o FalleN, não tem muito para dizer. Pensei que todos estavam há muito tempo sem jogar, que não ia funcionar, mas estão nos calando mais uma vez, fazendo história mais uma vez", afirmou.

"Aquilo (Last Dance) tinha obrigatoriamente que acontecer, fico feliz por eles, sei que estão contentes de jogar uns com os outros de novo e não poderiam pedir mais, vão acabar a carreira jogando os melhores torneios do mundo juntos, um time que fez história, você não pode pedir mais do que isso como jogador", completou.

fox também avisou que, se precisar, o time já sabe onde arrumar um jogador substituto.

"Estou pronto, fácil", brincou.

Jovens e inquietos

Aos 35 anos e atuando pela Fourteen, um time português formado há cerca de três meses, fox esteve na Altice Arena para participar do showmatch entre um combinado de jogadores portugueses e uma seleção da BLAST Premier Spring formada pelo público. O jogador destacou a emoção de se reencontrar com o palco e o público.

"Para mim foi muito bom por muitas razões. Entrou a pandemia e nunca mais jogamos torneios offline. Com a idade que eu já tenho, com os anos que eu já jogo CS, ficar em casa fechado jogando já me custa mais que o normal, foi muito bom, um misto de sentimentos, deu uma motivação extra, assim por dizer. Jogar aqui, na frente do nosso público, mesmo sendo um showmatch, para mim dá para sentir coisas que já vivi no passado, por isso saio daqui muito feliz", disse.

Na pandemia, inclusive, fox decidiu dar uma pausa na carreira de mais de 20 anos. De acordo com o jogador, o período foi usado para colocar a cabeça no lugar depois das coisas não estarem funcionando com a OFFSET, seu antigo time. Alguns meses depois, surgiu o projeto da Fourteens.

"Eu dei uma pausa porque não estava de acordo com alguns membros da minha equipe antiga, e como já estava muito cansado de discussões, mesmo que fossem saudáveis. Decidi pausar por uns 4 ou 5 meses, descansar minha cabeça, e depois levantou-se a hipotese de fazer os Fourteens e, para mim, o objetivo é sempre o mesmo, jogar com os jogadores mais jovens e tentar tirar o melhor deles para, se calhar, seguirem os meus passos", disse fox.

"Não quero me gabar do que fui ou que fiz, mas vendo o meu percurso, fui um dos poucos portugueses que fez. Eu gostaria e teria orgulho se mais jogadores portugueses fizessem o mesmo, e é isso que eu tento neste momento. Passar um pouco da minha realidade, do meu passado, do que fiz e das equipes que joguei, e um pouco da experiência", completou.

O ex-FaZe também disse que às vezes é difícil fazer com que esses jovens jogadores escutem os mais experientes.

"Há jovens que já não te ouvem, pensam que você está no passado, e não ouvem as dicas que você dá, o que você fazia nas equipes antigas, as melhores equipes do mundo. Espero que alguns dos que eu jogo ouçam e tentem aproveitar isso, porque acho que, se querem seguir um pouco dos meus passos, como eles me disseram, devem prestar atenção, e não ouvir por um ouvido e soltar pelo outro. O meu papel é esse, jogar, porque gosto de jogar, não sei fazer outra coisa da vida a não ser jogar, tirando sair com meus amigos e essas coisas. Jogar para mim é uma vida, porque jogo há 22 anos. Agora é competir, sei que é um nível mais baixo do que estava habituado, mas é tentar tirar daqui jovens que façam sucesso, isso me deixaria orgulhoso", completou.

Sobre o estado atual da cena portuguesa, que vê jovens jogadores surgirem na For The Win e teve a Saw participando de campeonatos internacionais no ano passado, fox acredita que o que falta é uma vitrine para os times e também uma mentalidade melhor para os jogadores.

"Os jovens em Portugal sempre tiveram nível. Nós somos meio abafados mas em termos de bons jogadores, individualmente falando, sempre tivemos. Talvez não tivemos a vitrine mais correta, porque jogar os qualificadores na Europa é muito difícil, por isso acabamos sendo um pouco abafados. Mas há muita qualidade", destacou.

"Também temos outro problema grave no CS português que é que uma equipe formada com jogadores de nome ou não, com craques... se as coisas forem mal por duas semanas seguidas, eles já começam a falar uns com os outros para mudar de equipe, falam nas costas dos jogadores da própria equipe. Já aconteceu comigo, já vi acontecer, vejo acontecer constantemente em quase todas as equipes portuguesas, tirando o Saw e For The Win, que são mais reservados", continuou.

"Quase todas as outras equipes falam que vão tirar. Se ocorresse tudo bem, você estaria no topo, é isso que eu tento transmitir aos jovens. Se vai mal tem que ter a cabeça para tentar dar a volta por cima. Não é em dois meses de equipe, como você vê em Portugal. Desfazem tudo e deixam as organizações, que gastam rios de dinheiro para tentar manter jogadores. Acho que isso não se faz. Infelizmente, acho que a mentalidade é muito pequena no que toca a isso, mas em termos de nível, temos muito", finalizou o veterano.

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