peacemaker em entrevista à Dust2 Brasil

peacemaker explica saída da Imperial e pede mudança em organizações

Trabalhando como comentarista no Major, o treinador falou da passagem pelo Last Dance e o futuro

Luis "peacemaker" Tadeu é parte do IEM Rio Major, mas está no lado errado do palco. Em vez de estar nas cabines de jogo, atrás dos jogadores, está na mesa de comentaristas da transmissão oficial em inglês. O ex-treinador da Imperial conta que, como um competidor, é difícil não disputar o primeiro mundial de CS:GO no Brasil.

"A questão é que o lado competitivo da coisa bate muito forte dentro de mim. É uma parada que eu fiquei muito triste quando aconteceu a minha saída da Imperial, justamente porque eu sabia que eu ia ter dificuldade de, possivelmente, competir nesse torneio", afirmou peacemaker em entrevista à Dust2 Brasil.

Ocupar o papel de comentarista não é novidade para peacemaker. Em outros grandes campeonatos de CS:GO do país, como a 4ª temporada da ESL Pro League e ESL One Belo Horizonte, ele também ficou na função.

"Querendo ou não, para um brasileiro… eu que estou desde 2006 como coach, competindo, (queria) ter a oportunidade de participar de um evento aqui. Infelizmente, eu não consegui estar em São Paulo e em Belo Horizonte também como coach. Várias situações aconteceram, ou problemas de saúde, ou de eu ter saído da equipe recentemente. E, novamente, infelizmente, eu não consegui", completou.

Esse sentimento é ainda maior porque a Imperial, último time que peacemaker treinou, participou do Challengers Stage.

"Tinham vários momentos que eu queria estar lá para poder ajudar. Os casters até brincavam, a gente fica na talent room, vendo os jogos e comentando o que está acontecendo. E eu falava 'pelo amor de Deus, pausa'. Várias vezes que acontecia de eu falar 'tem que pausar' e o FalleN pausava, ou não pausava e eu ficava com a sensação de que se eu tivesse lá eu pausava", disse.

peace tem gostado da experiência como comentarista e da atmosfera do evento, que tem sido muito elogiada por seus companheiros, mas não pensa em trocar de carreira.

"É difícil, mas eu espero...Eu não sei ainda o que eu vou fazer no futuro, mas eu pretendo continuar como coach. Se possível, ajudar uma equipe brasileira a chegar em um Major e, se Deus quiser, viver esse sonho aqui. Além do sonho de participar com uma equipe brasileira, eu tenho o sonho de participar de um grande evento no Brasil", contou.

Chateado

peace deu mais detalhes da sua saída da Imperial, que aconteceu em agosto deste ano. De acordo com o treinador, seu desejo era ter concluído ao menos o ciclo do Major, já que esse foi um dos principais motivos da sua entrada no projeto.

"Quando fizemos o projeto, eu estava na Complexity, tinha uma base legal lá, tinha respaldo de montar uma equipe lá. E, obviamente, como brasileiro, sempre tive vontade de trabalhar com esses caras. Quando surgiu essa oportunidade, eu quis, sim, participar, principalmente pelo Major do Brasil. Falei que era uma oportunidade única e eu não sabia se na minha vida vou ter novamente a oportunidade de trabalhar com eles. Então, não pensei duas vezes e não me arrependo da decisão", disse.

O treinador afirmou que, em primeiro momento, foi bastante afetado pela decisão da sua saída. Depois, porém, ele entendeu os motivos.

"Fiquei bem chateado pela forma como as coisas aconteceram. Eu avalio que a gente teve um sucesso muito bom no primeiro semestre, talvez não ganhamos troféus e não tivemos o desempenho que gostaríamos de ter tido, principalmente, no final do semestre, mas não tenho como avaliar como uma coisa negativa", afirmou peace.

"No primeiro momento eu fiquei bem chateado, mas depois, com o tempo, eu entendi. Infelizmente ou felizmente, o perfil desses jogadores da equipe realmente não é ou nunca foi de ter um coach muito estratégico, que tem uma voz ativa, que decida as coisas, nas equipes deles. A gente viu com o zews, com o YNk e viu agora comigo também", disse o treinador.

"Eles se dão melhor com pessoas que cuidam mais do lado motivacional deles. O lado motivacional, embora seja uma coisa que eu tento trabalhar, nunca foi meu forte. Eu sempre fui um coach de tentar ajudar a equipe, de pausar, de tentar ter impacto dentro do jogo. Eu entendi que eu não fazia o perfil que procurava. Enfim, paciência. Eu desejo sorte para eles. Deixei as portas abertas. Tenho um carinho enorme pelo FalleN e sei que é recíproco", completou.

peacemaker treinando a Imperial na IEM Cologne

Outros fatores que também atrapalharam, de acordo com peacemaker, foram a punição da ESIC e os problemas de saúde enfrentados pelo treinador.

"Não tive a oportunidade de estar com a Imperial em momentos cruciais da evolução da equipe, de acompanhar a equipe. Isso me afetou bastante, me prejudicou e, também, talvez, um dos motivos pelo qual optaram pela minha saída e as coisas aconteceram como aconteceram foi também por isso", disse.

"Foi porque eu não estava presente em momentos muito importantes da equipe e eu perdi momentos que eu poderia estar lá para ajudar ou poderia estar lá para sentir como estão os jogadores, e tudo isso ficou vago para lá. Eu não estava lá, não sabia o que estava acontecendo, não sabia como o boltz está pensando, fisicamente, como está a cabeça dele, como o FalleN está, o que está acontecendo no time. Só sei o que me falam e o que me fala fica muito no WhatsApp", continuou peace.

"O trabalho do coach é muito do dia a dia, de você sentir os jogadores, sentir como está o clima do time, sentir como está a cabeça dos jogadores e eu não tendo isso, grande parte do meu trabalho fica inválida porque a parte tática, a parte de jogo, isso eu manjo bastante, mas o FalleN manja muito mais do que eu. Então, eu chegar assim e falar "tem que jogar desse jeito". Às vezes nem é isso a necessidade da equipe, a necessidade da equipe está muito mais num lado emocional e eu não estou lá para sentir isso", completou.

peace, inclusive, revelou que gostaria de trabalhar novamente com com Gabriel "FalleN" Toledo um dia.

"A gente conversou muito desde a minha saída e quem sabe, quem sabe a gente um dia a gente volte trabalhar junto. Mas eu fiz questão de deixar as portas abertas, justamente pelo carinho que eu tenho pelo projeto e pelos jogadores, e por eu ter entendido depois, em um momento de reflexão, o porquê das coisas acontecerem, do porquê terem o fnx com eles. E faz parte", disse.

Respaldo

peace reforça que quer treinar um time brasileiro em 2023, mas sabe que seu estilo mais controlador não é visto como ideal para os jogadores do país. Por isso, ele faz um apelo para que as organizações dêem mais respaldo para os treinadores e deixe-os tomar decisões.

"Não acho que deve ser 100% dessa forma, mas o coach tem que ter respaldo para trabalhar, até porque, quando as coisas dão errado, geralmente caem para o lado do coach, da liderança. A gente vê isso no futebol, em outros esportes, a importância que o coach tem nas tomadas de decisão", disse.

"As organizações têm que remodelar essa coisa porque muitas dessas organizações têm jogadores novos. E eu acho que é uma carga, o jogador já tem muita responsabilidade dentro do jogo, e quanto mais eu acho que quanto mais as organizações tentam abrir os olhos para justamente tentar transferir as responsabilidades para o management e deixarem os jogadores focados mais no jogo, elas vão se beneficiar mais", completou.

peace cita como exemplos de organizações que seguem esse modelo a NAVI, de Andrii "B1ad3" Horodenskyi, e a FURIA, de Nicholas "guerri" Nogueira.

"Acho que isso iria beneficiar (o cenário). Talvez em um curto prazo alguns coaches tenham dificuldade de lidar com esse poder, de tomar decisões, mas têm outros coaches que vão saber trabalhar com isso e tirar a responsabilidade e pressão dos jogadores", afirmou.

"Vejo uma grande dificuldade e eu acho que as organizações têm que repensar um pouco o modelo de trabalhar com relação a isso. Não necessariamente trocar os coaches que já estão, mas dá um pouco mais de poder para eles tomarem as decisões, para justamente ajudar os jogadores", completou.

peacemaker e kassad na mesa de análise do IEM Rio Major

peace, garante, porém, que não entrou na Imperial imaginando que teria esse poder.

"Na Imperial, eu sabia desde o começo (que não seria assim), não tem como eu falar que é injusto, eu sabia que o meu perfil seria esse. Eu não ia ser um cara que ia chegar lá e tomar todas as decisões, de quantos campeonatos iríamos jogar, do que iríamos jogar e da forma como iríamos jogar", disse.

Futuro

Agora, peace entra na reta final da temporada conversando com algumas equipes e avaliando projetos para 2023. Além de trabalhar com brasileiros, ele também conta que gostaria de trabalhar com uma mescla entre jovens e veteranos.

"Estou conversando com algumas equipes, pensando no que eu vou fazer. Uma coisa que eu tenho bastante definido na minha cabeça é que eu quero trabalhar com uma equipe que mescle, realmente, juventude com pessoas experientes. E, depois da Imperial, teve pontos positivos e negativos da minha experiência com eles, e uma coisa que eu quero seguindo adiante é, realmente, ter uma organização que confie no meu trabalho, que eu possa ter um pouco mais de liderança, tomadas decisões, não necessariamente de kickar jogador e decidir tudo ou a forma que uma equipe joga 100% no jogo", disse.

"Se o projeto der errado, se as coisas estiverem dando errado, aí tem que reavaliar a forma como o coach está trabalhando e como as organização está tomando as decisões. Aí sim eu acho que vem, justamente, uma conversa com os jogadores de entenderem a necessidade deles. Mas, assim, coaches experientes, organizações experientes e pessoas bem instruídas vão saber tirar isso do jogador sem essa necessidade de ter uma rivalidade entre jogador e coach, rivalidade entre jogador e organização. É uma dificuldade sim e, se eu for trabalhar com uma equipe brasileira, eu só trabalharia, só aceitaria um desafio desse, se eu tivesse o respaldo para trabalhar. E, infelizmente, até o momento eu encontro isso mais na Europa, mas vamos ver", completou.

Quanto a saúde, que o atrapalhou em 2022, peacemaker disse estar se sentindo bem.

"Foi um momento bem turbulento porque eu tenho pedra nos dois rins, consegui tirar de um e ainda tem uma no outro rim, só que ela não é obstrutiva, não estou com um problema muito grave, mas vou ter que fazer outra cirurgia para retirar essa pedra. Estou tendo uma reeducação alimentar, estou tentando seguir o melhor possível porque, quando você está em um evento, é difícil você seguir uma dieta, mas estou tentando me recuperar", finalizou.

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