Américo Verde, manager da Legacy (Foto: Divulgação/Legacy)

Manager da Legacy vê cobrança desproporcional: "Não ficamos contentes com a situação"

Américo Verde, responsável pela equipe de Counter-Strike, falou sobre críticas e ataques que equipe vem sofrendo

Enquanto a BESTIA briga para retomar sua vaga no BLAST.tv Austin Major, a Legacy se vê no meio do fogo cruzado. A organização, que ocupou o lugar do time no mundial, tem sido criticada pela comunidade argentina por, em suas palavras, não apoiar a causa da equipe, que está fora da competição após não conseguir os vistos no tempo determinado pela organizadora.

Em contato com a Dust2 Brasil, Américo Verde, manager da equipe, disse que a reação negativa tem sido maior que a esperada.

"Não estávamos preparados para nada disso, estávamos esperando a decisão ser tomada. Nós tínhamos recebido um email com uma data-limite e estávamos esperando. No momento, estávamos jogando IEM Dallas, tínhamos sido eliminados da seletiva da Pro League. Estávamos decidindo o que faríamos. Fomos pegos no meio, se tornou algo que não era para ser assim", explicou.

A tensão começou antes mesmo do convite oficial, após Eduardo "dumau" Wolkmer falar sobre a possibilidade da Legacy substituir a equipe argentina. A entrevista, em meio à campanha da BESTIA para obtenção dos vistos, não caiu bem.

"Na entrevista do dumau, há uma interpretação completamente errada daquilo que ele falou. Ele usou palavras fortes, não vou dizer o contrário, mas não são palavras para receber a quantidade de mensagens ruins, fortes, para não entrar em detalhes (que ele recebeu)", disse.

"Pegaram algumas palavras que o dumau falou e transformaram em uma guerra. Não tem guerra alguma. Quem conhece e trabalha com o dumau no dia a dia sabe que ele é uma pessoa super tranquila e o que ele tentou fazer foi colocar o nosso time para cima. Não foi minimizar ninguém. Essa cobrança que veio por parte da comunidade, da BESTIA e dos jogadores, a pressão que veio é completamente desproporcional", completou.

Américo, que esteve com o time durante a derrota no Major Regional Qualifier (MRQ), relembrou que a Legacy parabenizou a BESTIA e destacou que ninguém ficou feliz com o problema dos vistos.

"Não ficamos contentes com a situação que a BESTIA viveu. Não desejamos mal a nenhum jogador. Daquilo que sei, e eu estava presente, foram dados os parabéns aos jogadores por terem vencido a partida de classificação para o Major", disse.

saadzin, da Legacy, durante o MRQ

O manager disse que o time esteve em contato com a BESTIA no passado, para se situar sobre a situação dos vistos, mas o diálogo foi restrito.

"Houve conversas entre BESTIA e Legacy para entender qual era a situação, mas recebemos o silêncio. Começamos a ter atualizações da BLAST para ficarmos de backup, preparados para jogar, houve uma tentativa de aproximação para tentar entender o que estava acontecendo e não recebemos respostas concretas. Os pedidos de ajuda vieram depois das decisões, assim como os de manifestação", disse.

"Estamos de consciência tranquila porque fizemos aquilo que deveríamos fazer. Esperamos pelas decisões da BLAST e da Valve, houve uma tentativa de aproximação com a BESTIA, e a resposta foi evasiva. Não vou dizer que foi um silêncio ensurdecedor, mas foi evasivo. A partir daí, seguimos nosso caminho e eles, infelizmente, seguiram um caminho diferente", explicou.

Questionado sobre a cobrança por falta de apoio público para a BESTIA da organização e dos jogadores, o manager disse que o time focou em se recompor e destacou que a decisão não poderia ser influenciada pela Legacy.

"Primeiro tivemos que lidar com a perda do MRQ com uma tristeza muito grande. Nós tivemos que voltar a unir nosso grupo, pois tínhamos mais competições para jogar após o MRQ. Tínhamos a ESL (Challenger League) e IEM Dallas para jogar. No meio dessa tristeza, a única coisa que fizemos foi focar naquilo que tínhamos que fazer", disse.

"O problema da BESTIA era um problema que não estava no nosso radar. As informações que tínhamos eram as que víamos na comunidade o que a BLAST nos enviava. A nossa decisão foi de esperar para saber o que aconteceu, manter o nosso caminho, e no meio dessas coisas todas nós estávamos jogando, então eu tinha que manter o foco dos jogadores. Tivemos de fazer um trabalho para termos a equipe funcional", continuou.

"Nós não queremos o mal dos jogadores da BESTIA ou da BESTIA como organização, mas os prazos foram dados pela BLAST, e é importante salientar que, quando a data-limite aconteceu, a última decisão foi tomada pela Valve. A BLAST tomou decisões enquanto promotora do evento, que ficou clara após a mensagem deles de que a Valve aprovava a troca de equipes. E tinha que ser a Valve porque era um evento Major, não poderia ser só a BLAST. É um evento Major que tem a BLAST como produtora", completou.

lux, da Legacy, durante a IEM Dallas

Américo destacou que diferentes cobranças vieram da comunidade e também de pessoas ligadas à BESTIA, incluindo os jogadores.

"A cobrança que veio por parte dos jogadores e da organização da BESTIA diretamente à Legacy não faz sentido algum. Passa uma imagem muito negativa, uma mensagem muito ruim para a comunidade. A guerra não é e não deveria ser conosco, nem com os nossos jogadores", disse.

"Nós não temos responsabilidade pela decisão final, não trabalhamos na BLAST ou na Valve, somos mais uma equipe. Se não fôssemos nós (a aceitar o convite), seriam outros. A cobrança é desproporcional. Havia prazos para serem cumpridos, isso nós sabíamos e a BESTIA também sabia. Eles não cumpriram e, a partir daí, tomamos a decisão que a organização achou que era a mais apropriada perante as informações que tínhamos", explicou.

O manager disse que as primeiras horas após o anúncio oficial foram difíceis devido a quantidade de ataques recebidos pela organização e os jogadores.

"Está sendo difícil. Os jogadores sabem que é uma decisão difícil de tomar. Nós estamos trabalhando nessa parte, para mostrar que não temos responsabilidade, é uma decisão em que eles não podem fazer nada para contribuir para um efeito positivo para que eles (BESTIA) possam ir ao Major ou não. Não podemos fazer nada, somos mais uma equipe", disse.

"Não foi fácil, principalmente nas primeiras horas, recebemos mensagens nada boas, pesadas, com propósitos fortes. Elas foram enviadas diretamente também para os jogadores, fazendo pressão em cima deles. É completamente desproporcional e não é justo", continuou.

"É um trabalho (de blindagem) que faremos agora, vamos preparar o time para jogar o Major. Ela faz diariamente sua preparação como se fosse em qualquer outro campeonato, até para eles perceberem que a responsabilidade não é deles e o hate que recebem nas redes sociais é de uma infelicidade que não cabe a nós decidir. Tentaremos fazer o melhor possível para representar o Brasil e a América Latina", completou o manager.

Novos ataques surgiram depois da equipe publicar, no X (antigo Twitter), as imagens dos adesivos, lançado na noite da quinta-feira. A publicação foi vista por parte da comunidade como uma provocação e recebeu mais de 3 mil respostas. Américo disse que o time não pode ter vergonha de suas conquistas.

"Decidimos que não podemos ter vergonha de mostrar os stickers, que saíram ontem. Nenhum jogador deve ter vergonha por isso. Nós fizemos nosso trabalho, infelizmente não ganhamos da BESTIA, mas fizemos parte do trabalho. Não temos de ter vergonha de mostrar absolutamente nada", completou.

"Acho que devemos mostrar, pois estamos de consciência tranquila daquilo que é a linha do tempo de acontecimentos. Se fôssemos nós tomando decisões para que eles não jogassem, aí a consciência era mais pesada e tínhamos que nos retirar (do campeonato) ou nos retratarmos de alguma forma. Não fizemos nada em relação a isso, não somos responsáveis por nada disso, nem pelos consulados e nem pelas regras dos Estados Unidos. De 160 jogadores, só houve problemas com os jogadores da BESTIA. É uma infelicidade, não é uma felicidade para nós", disse.

Jogadores da Legacy durante a IEM Dallas

O manager ressaltou que a organização não coibiu nenhum tipo de comunicação por parte dos jogadores, e que eles estão livres para fazer postagens sobre o assunto.

"Se os jogadores quiserem postar, serem felizes e mostrarem as coisas deles, acho que não devem receber nenhum tipo de hate por parte da comunidade que apoia a BESTIA, além dos próprios jogadores. Eles devem entender também que não é algo que controlamos. A nossa felicidade não deve ser cortada pela infelicidade de outras pessoas. Seguimos o nosso caminho", afirmou.

Agora, a Legacy segue o plano para competir no BLAST.tv Austin Major, se preparando dentro e fora do servidor. Américo reconhece que há uma pressão extra.

"Inconscientemente, tem coisas que afetam. Sempre recebendo mensagens. Acredito que isso afeta no inconsciente, sempre. Por outro lado, vamos tentar fazer melhor, eu, a comissão técnica, psicólogo, tentaremos que isso não afete o desempenho do time. Isso é um trabalho contínuo que estamos fazendo nos últimos tempos. Estamos tendo oscilações de jogar bem, ficar no quase e depois perder o jogo", disse.

"Quero acreditar que, daqui há 12 dias, a pressão, se existir, que não seja feita em cima de nós, mas com quem eles quiserem. Estamos treinando com boas equipes, que estiveram na IEM Dallas, e com as equipes que normalmente já treinamos aqui nos Estados Unidos. De resto, vamos fazer o que devemos, nos preparando para o Major", finalizou.

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