brutt atuando pela Imperial no CBCS em 2019 (Foto: Divulgação/Imperial)

Caso brutt: Justiça não vê negligência e arquiva inquérito contra Imperial e Reapers

Investigação não identifica infrações por times; laudo aponta gato como possível causa de infecção

O inquérito da Polícia Civil que investigava as circunstâncias da morte de Matheus "brutt" Queiroz, jogador de 19 anos que morreu em 2019, foi arquivado na última sexta-feira. O pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), deferido pela 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), conclui que não há indícios de negligência ou omissão por parte de Reapers e Imperial, e que não há ligação entre o trabalho e a causa da morte do jogador.

O pedido de arquivamento, obtido pela Dust2 Brasil, foi feito pela promotora Fernanda Martins Fontes Rossi, e deferido pela juíza Tânia Magalhães Avelar Moreira da Silveira, da 1ª Vara Criminal do Foro Regional do Jabaquara.

A investigação, iniciada em 2020, se debruçava sobre as condições das gaming houses nais quais brutt viveu ao longo de 2019 e se elas tinham relações com sua morte, causada, segundo o atestado de óbito da época, por uma infecção do sistema nervoso central.

A polícia ouviu uma série de testemunhas ligadas à Imperial, como sócios, funcionários e familiares de outros jogadores, e concluiu que a casa apresentava "estrutura adequada de manutenção, higiene e alimentação" e que brutt "recebeu atendimento médico em diversas oportunidades".

Um novo laudo do Instituto Médico Legal (IML) conclui agora que a morte foi causada por uma "encefalopatia aguda decorrente de um processo infeccioso oportunista no sistema nervoso central (toxoplasmose cerebral)". Antes, a morte era tratada como uma infecção no sistema nervoso central não especificada.

O documento atesta que não há indício de negligência médica, e nem ligação entre o trabalho como jogador profissional. Ainda de acordo com o laudo, há possibilidade que a infecção tenha ocorrido após a adoção de um gato de rua doente.

O arquivamento do inquérito é só um dos capítulos dos embates entre a família de brutt e Reapers e Imperial. Em junho deste ano, a Justiça manteve a condenação da Reapers em processo sobre as condições de trabalho. Em julho de 2024, a Justiça bloqueou contas da Imperial para o cumprimento de pagamentos de indenizações. Ambos os casos estão no Tribunal Superior do Trabalho (TST).

A reportagem entrou em contato com o advogado da família de brutt, que disse respeitar, mas não concordar com a decisão, e segue avaliando as medidas cabíveis. A Imperial, por sua vez, disse ter recebido a decisão "com serenidade" e que espera que o arquivamento colabore para o "reconhecimento de sua inexistência de responsabilidade na esfera trabalhista" (confira as notas na íntegra no fim da matéria). Não foi possível contatar Gabriel Siqueira Hentz, sócio da Reapers.

Morte de brutt

Com 19 anos, brutt morreu em 15 de dezembro de 2019 após permanecer internado por uma semana em um hospital no Rio de Janeiro. A causa da morte foi uma neurotoxoplasmose, uma infecção no sistema nervoso central. Na época, brutt estava afastado do time titular da Imperial pois estava sofrendo com fortes dores de cabeça.

Cinco meses depois, a família de brutt moveu uma série de processos contra a Imperial e Reapers, seu ex-time. Há ações contra as organizações nas áreas cível e trabalhista.

Em uma das ações trabalhistas, Gabriel "Punisher" Hentz, fundador da hoje desativada Reapers, fez um acordo com a família de brutt. Além disso, Imperial e Reapers já assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) se comprometendo a cumprir normas trabalhistas. Os demais processos seguem em andamento.

Nota da família

"A família de Matheus respeita a decisão de arquivamento, mas não concorda com o encerramento das apurações. A perícia realizada foi indireta e apontou apenas uma 'possível causa', sem a realização de perícia direta e sem uma investigação profunda que esgotasse todas as linhas de esclarecimento sobre a morte do atleta. Seguiremos avaliando as medidas cabíveis, inclusive a solicitação de diligências complementares, para que a verdade seja apurada de forma completa e transparente."

Nota da Imperial

"A Imperial Esports recebeu com serenidade a decisão da Justiça Paulista, a pedido do Ministério Público, de arquivar o inquérito que apurava o falecimento do atleta Matheus Queiroz Coelho.

Desde o início, colaboramos integralmente com as autoridades e sempre reafirmamos que não houve qualquer ato, omissão ou falha de nossos sócios, gestores ou colaboradores que pudesse ter concorrido para o trágico desfecho.

As perícias indiretas realizadas pelo Instituto Médico Legal confirmaram a inexistência de negligência ou omissão e apontaram como causa epidemiológica da infecção cerebral o contato da vítima com um gato de rua doente, por ela próprio adotado e levado para sua residência particular, sem que em qualquer momento tenha frequentado a gaming house da Imperial. Essa informação foi prestada pela própria família no prontuário médico de internação e ratificada pelos peritos.

A Imperial confia que essas conclusões também venham a contribuir para o reconhecimento de sua inexistência de responsabilidade na esfera trabalhista, atualmente em fase recursal, cujas decisões de primeira e segunda instância ainda não transitaram em julgado.

Reafirmamos nossa solidariedade à família e aos amigos de Matheus e seguimos firmes no compromisso de oferecer um ambiente seguro, saudável e de excelência para todos os nossos atletas.

Bruno Silveira
Sócio-Administrador
Pelo Conselho"

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