MUTiRiS, dos SAW, durante o PGL Masters Bucharest

MUTiRiS reflete sobre cenário português: "Muitos não gostam de trabalhar tanto"

Jogador falou sobre situação do país no CS, período de seis anos nos SAW e classificação aos playoffs do PGL Masters Bucharest

Christopher "MUTiRiS" Fernandes tenta, há anos, colocar o Counter-Strike português no topo. Competindo desde 2009, o jogador de 32 anos não parece muito animado com a jovem geração de competidores.

"Ainda falta alguma coisa", disse MUTiRiS em entrevista à Dust2 Brasil após a classificação dos SAW para os playoffs do PGL Masters Bucharest.

"Deveriam aparecer mais jovens. Claro que é difícil, num ecossistema tão pequeno, saírem tantos bons jogadores, mas eu gosto de dizer que os portugueses são um pouco malandros", completou.

Para MUTiRiS, falta metodologia para que os talentos da região se desenvolvam melhor.

"Muitos não gostam de trabalhar tanto e, os que trabalham, muitas vezes fazem de maneira errada. O pessoal vê o donk jogando FACEIT e só quer jogar FACEIT. E, muitas vezes, o que falta é entender o que fazer num round, escolher uma role e focar nas posições", completou.

Além disso, o veterano apontou também a falta de bons líderes para instruir os jovens no processo.

"Faltam capitães para guiá-los da maneira correta. É claro que algumas aparecem, mas é sempre complicado, porque alguns não têm tanta experiência e, se calhar, não conseguem guiar da maneira certa", completou.

MUTiRiS também falou da classificação aos playoffs, da temporada difícil dos SAW e da sua trajetória de cinco anos com a organização. Confira:

Surpresa e resiliência

Os SAW conseguiram a classificação para os playoffs com uma campanha 3-1. Depois de perder da 3DMAX na estreia, a equipe venceu NIP, GamerLegion e Aurora para ficar com a vaga nos playoffs. MUTiRiS comemorou.

"Para nós é muito importante, especialmente porque, quando fizemos esse time outra vez português, nós conseguimos um top 4 na FISSURE (Playground 1) e foi muito importante para nós, para termos alguns pontos e confiança. Agora estamos num momento menos mal. Os treinos não estavam indo bem em casa, com erros que estão acontecendo constantemente trazendo algumas frustrações", disse.

"Chegar aqui e vencer times como Aurora e GamerLegion é um feito incrível. Temos que trabalhar com a realidade, o nosso time precisa de experiência, precisa melhorar em muitos aspectos. Para mim é mais complicado, eu já queria estar em outro patamar, mas estou muito contente com essa vitória", continuou o jogador.

O triunfo diante da Aurora, segundo MUTiRiS, foi uma grata surpresa.

"Existem mapas que em treinos não estão correndo bem em treinos e chegou aqui e não perdemos. Tenho que ser completamente sincero, quando estou me preparando para um jogo... é sempre difícil, mas a nossa probabilidade de ganhar era mais baixa", disse.

MUTiRiS e krazy, dos SAW, comemoram vitória contra a Aurora

"Quando entramos no servidor, se fizer tudo certo, se não errar muito, é sempre possível (ganhar) e foi isso que aconteceu. Hoje pudemos ver isso, mostramos uma resiliência grande neste campeonato todo e isso me deixa orgulhoso, porque o fato de nunca desistir fez com que déssemos esses comebacks e ganhássemos dessas equipes", explicou.

A resiliência, inclusive, tem sido um ponto alto dos SAW - e uma diferença do time que estava em "lua de mel" no último e até então único playoff do ano na FISSURE Playground 1.

"Em questão de resiliência e experiência nós melhoramos, mas pioramos porque, em certos jogos, o pessoal parece que têm muita coisa na cabeça e parece que estamos jogando os rounds apenas seguindo um plano, sem querer jogar ou reagir ao que está acontecendo. É a diferença que sinto para o time de agora", contou.

"Mas, no momento, somos mais time, temos mais tempo, mais táticas e, se calhar, para pior, é que tínhamos uma grande Anubis e ela saiu e entrou a Overpass. Ela tem ido bem, mas não é muito jogada, não sei se iremos bem ou mal", completou.

Abrindo mão

Os SAW foram um dos times que não conseguiram vencer a briga pelo Valve Regional Standings (VRS) na Europa. O time terminou o ranking final na 20ª posição no recorte regional, cerca de 50 pontos atrás da FNATIC, última classificada.

"O assunto do Major pesou na cabeça de todos. Já estive na situação dos mais novos. Quando te colocam a possibilidade de jogar um Major e você tem que ganhar um determinado jogo, (o pensamento que) terá um dia importante amanhã, esse nervosismo, fez com que jogássemos muito mal nos últimos torneios", relembrou.

"Faltou um pouco de tudo. Sei que as pessoas gostam de falar muito do mental, mas a confiança vem muito do que você faz no dia a dia e da confiança que tem no dia de jogo. Quando você não está muito confiante dentro do jogo é porque está trabalhando mal ou as coisas não estão acontecendo tão bem dentro do CS", continuou o jogador.

"Depois, claro, há situações que vão contar a experiência. Mas naquele momento como time estávamos fragilizados. Nesse momento ainda podemos ter algumas dessas coisas, eu não sei o que aconteceu, mas as pessoas, aos poucos, vão acreditando que conseguem vencer esses times. Para mim isso está perfeito, estou aqui para lutarmos", completou.

Jogadores dos SAW comemoram vaga nos playoffs

Fora de Budapeste, o time já começou a caminhada para Colônia. MUTiRiS, porém, não está com o próximo Major na cabeça - o foco agora é no trabalho. A classificação para o mundial será uma consequência.

"O que a minha experiência diz é que, se trabalhar bem, mais cedo ou mais tarde vai chegar (ao objetivo). Isso não é um aviso. Não é porque chegamos aos playoffs que está tudo bem. O que os mais novos têm que entender é que chegamos aos playoffs, (entender que) é possível, e trabalhar mais para nos próximos estar nos playoffs (novamente)", disse.

"Muitas vezes o que acontece é que os jogadores chegam aos playoffs e ficam mais preguiçosos, não trabalham tanto. Em vez de à noite jogar CS, vão ver uma série. Eu, como já estou aqui há mais anos do que todos eles, posso dizer que um jogador de CS tem que abdicar completamente da sua vida. Eu abdico da minha vida pessoal, eu passo muito mais tempo com eles do que com os meus pais e minha namorada. E como eu faço isso, exijo isso deles. Essa é a parte que está sendo difícil para eles, mas acho que eles vão chegar lá. Eles tem que abrir mão de tudo e se dedicar ao CS", continuou MUTiRiS.

Uma relação simples

Além da carreira longeva, MUTiRiS também é uma exceção no quesito camisa. O veterano está nos SAW desde a fundação da organização em 2020. A relação é explicada facilmente por ele.

"Com os SAW foi tudo muito simples. Vou dar tudo pelos SAW a nível de trabalho, seja o que for, vou abdicar de tudo. O que a SAW tem que me garantir é que os jogadores estejam contentes. Como já aconteceu, não estávamos contentes com o lineup português e fomos para o internacional, foi uma decisão conjunta", afirmou.

"No fundo a organização vai ouvindo, confia muito nos jogadores. Nesse momento eu e story somos os mais velhos, mas o Ag1l já está conosco há um ano. O que acho que nos falta é estabilidade. Os SAW sabem que vou dar tudo por eles. No dia que eu sair, sei que vou sair de consciência limpa porque abdiquei de tudo para que essa organização tivesse sucesso", acrescentou.

MUTiRiS viu de tudo, teve os mais diversos companheiros possíveis, mas confia que tem a equipe certa para colocar os SAW no próximo nível.

"Quando voltamos à Portugal foi uma conversa entre os que ficaram e a organização sobre baixar um pouco as expectativas, acreditarmos que, mesmo com jovens sem experiência, conseguiríamos moldá-los e eles se tornaram jogadores melhores", contou.

"Começamos bem, agora estamos na fase de procurar a estabilidade. Ir aos playoffs é muito positivo, mas falo por mim, quero estar em outro nível e espero conseguir isso com eles, porque podemos estar perto dos melhores. Não digo no top 5, mas tentando lutar por um top 10, 15, acho que é possível. Provamos nestas vitórias que é possível (estar perto) das equipes desse nível", finalizou.

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